18 de mai. de 2012

O que uma foto diz (ou canta) sobre você?

No decorrer da vida, nesses cursos de fotografia e design que fiz, posso me dizer especialista na parte técnica e na parte estética da coisa. Só não consigo abstrair do pensamento alheio. Nessa época, onde as redes sociais andam á todo vapor, como uma vertente plena da vida do homem ou até mesmo de organizações e empresas, caímos numa pergunta simplória e até vulgar: o que uma foto diz de você?

 (Quantos adjetivos pra ela?)


Aquelas fotografias antigas, do começo do século, idealizavam o padrão de visão ideal, daqueles ideais de perfeição tão presentes que circundavam a família, o estilo de vida, os penteados e comportamento social. A aparência era (e ainda pode ser) a assinatura da felicidade. Aqueles patriarcas impecáveis e inatingíveis, cercados de sua esposa e filhos; suas expressões às vezes evidenciavam um indisfarçável desconforto ou seriedade. No entanto o arquétipo postural era o que regrava a imponência e as pessoas se utilizavam dessa "máscara emocional" para disfarçar dores, opressões e dificuldades dessa época. Isso mais facilmente visível nas mulheres, que ou estavam sisudas, ou com uma longa piteira e olhar indiferente.

 (Alguém ousaria se meter entre eles? Quantos segredos ocultam cada um desses rostos de mármore?)


Aí veio a depressão de 29, e todas as máscaras caíram. O esforço pela felicidade continuava, ainda, como uma forma de mascaras a família perfeita e suprimir os sofrimentos passados. Isso foi até os anos 60, quando as primeiras fotos transgressoras começaram a se evidenciar; transgressoras, claro, no sentido filosófico. Até a pornografia do começo do século era feita como se fosse um quadro renascentista ou algo assim. Mas os Beatles, Janis, Jimmy, e mais alguma pequena coleção de balacos, transformava a fotografia de forma definitiva. Não apenas a fotografia, mas o conceito de imagem em geral. E aquela velha perfeição que acabou na pira de Woodstock, renascia de maneira mais arrojada, espontânea, com um cigarro aceso (na melhor das hipóteses); foi aí que o velho filme definitivamente queimou.

 (Soltinhos?)

Renascia então das cinzas visuais, um retrato não mais falado, mas berrado; minuciosamente gritado ao som dos acordes cada vez mais rebeldes. Insisto sim em colocar, lado a lado, a música e a fotografia. Um hábito muito comum entre adolescentes do começo dos anos 2000 era musicalizar uma imagem, criando um post com um tema musical. E a coisa funcionou tão bem que os blogs fotográficos tiveram seu grande "boom". Fotografia cria inspiração, assim como a música. Numa música, você eterniza aquele momento. Afinal, veja: há quem não ouça aquela música e lembra daquele primeiro amor, ou daquele(a) namorada(o) filho(a) da puta? Ou daquele fim de semana em Ilha Grande? Ou daquele aniversário na Lapa?


 ("Eu nunca gostei de ser queiridinha!")


A foto faz o mesmo: eterniza um momento. Com as câmeras digitais, todos começaram a partilhar e ser meio "designers" de si mesmo.
Entramos em pauta n' outro traço da câmera digital: o chamado "eu me amo". Quem nunca bateu algumas dezenas de fotos sequenciais e postou algumas? No filme, era impossível saber o resultado até a revelação. precisávamos de técnicas, macetes, segredos e estilos para ter um bom resultado. Só quem se lembra daquelas fotos, daqueles aniversários, todas embaçadas, escuras, ou com aquela luz superexpostas. Os anos 90 trazem várias recordações desse tipo, aquele aniversario de 10 anos com fotos cheias de riscos e luzes incorretas. A câmera digital não. Ela permite nos corrigirmos, o tempo todo; encontramos nosso melhor ângulo em tempo real; capturar uma imagem com rapidez e precisão. pessoalmente eu acho que perdeu um pouco do quê artístico. Mas é um pensamento como quem compara Miguelângelo à Picasso. Vale um paralelo: Miquelângelo era genial e humilde, Picasso um gênio arrogante. A arrogância do eu cria imagens estranhas e deslocadas de si mesmos. Acompanho a vida de alguns amigos pelas redes sociais - já que meu tempo me impede de um convívio mais presente - e vejo coisas que não condizem com eles. Fotos musicalmente estranhas, de inspiração baixa, sem arte e sem espontaneidade. Desconheço algumas pessoas nelas, mesmo os queridos. Criticam o photoshop na playboy, mas ninguém posta foto de cara feia, suada ou espinhenta.



Somos enfim o que nossa imagem transmite; e essa preocupação vai nos envelhecer muito mais rápido. Não há Pitanguy que seja páreo para o Adobe.