4 de nov. de 2009

"Só o que deve ser eternizado..."


"Andei preocupado com essa definição e acabei concluindo: é sempre vaga.

Para cada um sou um; não atingi essa perfeição unitária assada na forma e com mesmo tempero. Não acredito em cotidiano, não aceito qualquer mudança, não me comporto bem o tempo todo. Não acredito em para sempre;nenhuma bondade é eterna, nenhuma paz é inabalável.
Ainda me assusto com certas pessoas, com a forma como se comportam, a forma como se relacionam, a forma como se condenam.
Essa vaga idéia de que qualquer coisa que preenche é útil pra quem se entrega. O que mais tem por aí é zumbi, controlado por essa maldita de que todos estamos cheios de algo. E todo mundo está cheio de qualquer coisa.
Eu me considero um copo pela metade, pois só me sirvo do que me é saboroso. Sei de cór tudo que não gosto, sei de todas as idéias que devo rejeitar.
Compro CDs e Livros pela capa, acredito em imagem e conteúdo, imagino, crio e realizo. Idealizo. E infelizes são as decepções daqueles que idealizam, que esperam sempre resultados.
Tudo anda cada vez mais escatológico. Nossa TV é escatológica, a sociedade vende Jesus e egocentrismo, a globalização individualiza, julga e conceitua. E para quem quiser, tem sempre uma engrenagem sobrando, nesse engenho de ilusões e lâminas."

"O Supra-sumo do semi-certo."


“Irmãozinho, faça um canto das dores do teu martírio:
Se o amor se muda em ódio,o lodo se troca em lírio.
Lance fora esta tristeza, tire um verso do cansaço.
Mesmo com canoa boa, é preciso ter bom braço.” (Aldir Blanc)

"De todas as partes que somos, de todas as partes que temos. Tenho dores indulgentes e lascivas.
Pesada é a culpa de quem se olha e se vê. Vê com verdade. Com a mais rara de todas as sinceridades.
As pessoas hoje andam pelo mundo cegas, em sua maioria, vagando por jardins e sombras anestesiantes, se recusando a enxergar a realidade de seus próprios principios.
O decorrer de tudo nos faz esquecer quem são, cria outra pessoa, uma estátua que subistitui a realidade. Um robô automatizado pelo cotidiano. E sim: isso é uma acusação."

[...] 8h depois...

"Quem é você" perguntou assustado ao ver a sombra na escuridão...

"Sou Érebo, sou a noite eterna; sou mãe dos que se escondem da luz do dia. Sou madrasta dos que cobrem o rosto, e carrego comigo verdades indizíveis..."
Ao seu lado, estava Hipnos. Que se aproximou lentamente e se apresentando em sussurros e abraço.
Agora estava ele, Érebo e a noite sem fundo. Testemunhando estrelas absurdas, cantando a silenciosa canção da madrugada, ela dizia, serena:

"Observe-os; eles gritam para afastar o silêncio; bebem para trazer palavras e se entorpecem para criar verdades. São zumbis da realidade, povoam a noite que jamais será povoada. Vivem num jardim de seda e areia, dançando em torno das ninfas e hecates. Cantarolando súbitas sonolências e nunca se entendem. Ao fundo Eros e Baco, sorridentes. Observe!"

Ele olhava com dor e respeito. Estaria sonhando? Ou estaria mais acordado que o resto da noite? A insônia varria sonhos e vontades. Um cigarro. Cheiros pungentes. Lírio e saudade: verdade.
Ela o deixou ali, pensando. E mesmo tanto assim, não foi suficiente."

R.


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