"Confesso: Fiquei ali parado, procurando alguma coisa que não estava nem esteve ou estaria jamais ali.
Vivi dias em que os ponteiros caminharam pra lugar algum; e dizem que os ponteiros sempre andam em círculos, mas é uma grande mentira. O passar do tempo, mesmo, só nas rugas, nos cabelos brancos, e onde cresce a crença.
Qualquer uma. De papai Noel até uma vida inteira.
E devo confessar também que amei de peito aberto. Que amei mais que poderia e deveria. Que amor quando em cascata se torna um veneno irremediável. Deve ser administrado em gotas, e por isso em mim foi fatal.
Confesso que exagerei. Exagerei um exagero poético, sentimental, louco, meio Chico Buarque, meio de Holanda, sem medida, sem compasso, sem Carne nem osso. Meio Almodóvar, meio Chaplin e meio Elis.
Confesso ter criado uma realidade que não existe; ter sonhado acordado e acordado atrasado.
Confesso falta de fé e total desesperança... e disso sim não devo ser culpado.
Confesso e assumo a culpa pelo crime, castigo e até pela pseudo paz quase predictória do abismo que confesso hoje: caí.
Confesso doçura. Doçura de aspartame. Emoção incontrolável e irreversível de um coração que se acelera rumo á explosão do fim. E que assim, foi a vida toda.
Confesso ter pensado ser melhor pra mim, melhor pra você, melhor para tudo que ruiu.
Confesso ter fugido com tudo isso nos bolsos.
Confesso também que tudo isso é piegas demais.
Meu veredito? Eu digo. Culpado! Culposo. Culpento! “Culpido”. Cuspido. Corrompido."
Rodrigo S.