17 de jun. de 2016

Oração de minha ressurreição


Tenho agora, arrastados por todos os caminhos errados, meus pés calejados e a bigorna de meu cansaço. Alguns grilhões de culpa. A experiência e algumas cicatrizes. O raciocínio de um ex combatente. A loucura de um coração que ainda bate. E bate. E bate. Até doer. A angústia de quem já quase desistiu de um mundo bom. Os olhos de quem tantas vezes já testemunhou o abismo, e foi até empurrado por mãos eluvadas de bondade. Sobrevivi: contundido, arranhado, exausto. Mas aqui. Não: esse manto frio de amargura só me faz lembrar do sol. Que tudo tem cura, mesmo que a cura seja o fim. Por fim, permaneço. Volto como Sol, ardendo e evanescendo o veneno das palavras vazias e promessas não cumpridas. O vômito seco da incapacidade. Volto. E voltarei. Até o último sopro. Porque sou teimoso desde que nasci; ninguém vai me convencer que não vale a pena tentar. Lento, sigo. Não atrás de alento. Mas de algo que eu mesmo não posso descrever. Nem quero. É meu! E me ensinou a não permanecer onde não harmoniza. Fico, mas sigo. Amém.

R.