Passa, tempestade, que eu não quero mais chorar. Passa, passa rápido, ligeira, pra eu não ter que ir pra lá...
Passa, chove logo: limpa minha calma dessas lágrimas que ardem, e me mancham lá na alma. Cicatriz, a ferro e fogo, passa a dor e passa o sopro, desse vento vão e cão, que me levou de mim.
Passa, troveja a trova; solidão não faz barulho. O trovão já não me assusta. E da noite só as nuvens, evaporam robustas e injustas, levando nosso amor.
Indiferença.
Passa num relâmpago, me tira dessa dor. Passa fundo e varre a poeira desse temor. Meu medo vai me devorar...
Passa, passa rápido, quer eu quero ver minha constelação, indagar a criação, dessa vida e sua oração.
Passa, anda, corre! Sai de dentro dos meus olhos! Tira da minha cara esse orvalho, de amargura e de cansaço.
Devolve minha força!
Devolve minha vontade!
Antes que eu me distorça. Antes que eu me acabe...
Indiferença.
Restaura o meu corpo. Cura meu coração. Deixa o sol entrar de novo pela janela, consagrado, puro e limpo.
Mas a nuvem não sumiu. E nela eu sumi. De nós, ficou a piada maior: só você é de verdade. E eu evanesci.
Indiferença.
Vez em quando vou chover, no seu teto estrelado. Lá de longe, lá do céu, lembrará do ser amado.
Desse mundo eu sumi. E a nuvem ficou. Sou agora um sei lá o quê, sem corpo e sem coração. Talvez a poeira que tanto me intrigou no céu.
Te prometo minha ausência. Te prometo eterno silêncio. Te prometo minha clemência. Só não te prometo amor: foi ele quem me levou.
Indiferença.
R.