26 de ago. de 2017

Agosto/2011 - O bardo sussurrou a história que se repetia para sempre no limbo de todas as coisas.


- Vamos; é hora de descer as escadas desse degradê de emoções e sensações. A subida tinha a minha mão. A descida não tem corrimão. A cada degrau uma emoção que deixamos para trás, a cada janela uma memoria perdida. "A fonte do esquecimento está à esquerda da porta do inferno". Bebeis, diariamente, goles homeopáticos. Já anoitece. Pouca coisa mudou. Do dia nublado herdamos a escuridão profunda e crescente do tempo e seu beijo lento, forçado e inevitável. Não há lua nem romances, nem luzes ou nuances. Há aquele medo quase digestivo de quem sente muito e fala pouco. Avançam as horas. Os ponteiros já não podem mais sincronizar as batidas do coração, agora cansado e faminto. Melhor tirar a mesa, melhor lavar essa louça suja e deitar, pra sonhar que ainda estamos acima das nuvens. Viver só seria mais justo se fossemos filmes, cada um de nós, películas giratórias de quadros infinitos e fatos congelados, retornáveis, pausáveis e repetitíveis. Cada rua um roteiro, cada memória um cenário - sem diretor! Porque aqueles como nós já estão exaustos da ordem. Mas o Sol pomposo ilumina a ordem da realidade e cega os sonhos e pesadelos, afasta os demônos e queima os vampiro. Encerramos as mágoas a cada pôr-do-sol, cada lençol, cada ambiguidade escondida nos milhares de recomeços que diariamente ignoramos. Ambígua é a vontade de quem deseja e não alcança, de quem corre e não descança, descalçado de esperança. Minha história, chata e enfadonha que faz torcer narizes, é contada nos vitrais e janelas desse templo, dessa escada, que continuamos descendo sem trocar olhares. Apenas esticando verdades em palavras. No final, lá embaixo está o barco. Num porto. Caronte, moeda e incerteza. Não há nada de seguro nesse porto: o destino é afinal outra paisagem da mesma história. Tece-se, assim, vossa memória. - R.

Agosto/2017

Eu estava com um impulso muito grande de escrever, mas não ia durar. Sabia que não. 
Tinha no bolso as mesmas drogas de sempre, pra acalmar os impulsos que avançavam os contornos.
Esqueci: eu não tinha mais contorno.
Aí parei de escrever.