19 de ago. de 2013

Minha amada imortal...



“Meu anjo, meu tudo, minha alma gêmea; meu próprio ser – Hoje apenas algumas palavras à caneta (à tua caneta). Só amanhã os meus lugares e estadias estarão definidos – que desperdício de tempo… Por que sinto essa tristeza profunda se é a necessidade quem manda? Pode o teu amor resistir a todo sacrifício embora não exijamos tudo um do outro? Podes tu mudar o fato de que és completamente minha e eu completamente teu? Oh Deus! Olha para as belezas da natureza e conforta o teu coração. O amor exige tudo, assim sou como tu, e tu és comigo. Mas esqueces-te tão facilmente que eu vivo por ti e por mim. Se estivéssemos completamente unidos, tu sentirias essa dor assim como eu a sinto. [...] Nós provavelmente devemos nos ver em breve, entretanto, hoje eu não posso dividir contigo os pensamentos que tive nos últimos dias sobre minha própria vida – Se os nossos corações estivessem sempre juntos, eu não teria nenhum… O meu coração está cheio de coisas que eu gostaria de te dizer – ah – há momentos em que sinto que esse discurso é tão vazio – Alegra-te – Lembra-te da minha verdade, o meu único tesouro, o meu tudo como eu sou o teu. Os deuses devem-nos mandar paz… 
Sempre Teu.
Sempre minha.
Sempre nossos...
Teu fiel Ludwig”

Uma das cartas de Ludvig Van Beethoven à sua amada imortal. "Minha amada imortal" - Um dos melhores filmes que tive o prazer de assistir, sobre um dos melhores músicos que tive o prazer de passar a vida a ouvir.

18 de ago. de 2013

Uma serenidade lapidada



"Reclamar da vida é o mesmo que chorar pra mamãe pedindo biscoito recheado no supermercado. Além disso, é um ato que evidencia nossos próprios defeitos, tornando nossa presença desagradável. Quando você abre a boca para reclamar de maneira improdutiva (sem a motivação de verdadeiramente mudar algo de maneira positiva), estampa em sua testa um certificado de menino mimado..."


Essas palavras soam como se - se fossem coletivas - instaurariam um silêncio sepulcral em toda humanidade. Ou mais ainda, em outro extremo, seriam um placebo já que o ser humano está sempre pronto a expor uma insatisfação por algo.


A infelicidade mora nas escolhas. Você abre mão de algo para abraçar outra coisa. Mas se for fraco a ponto de pensar no que deixou para trás, fica um eterno escravo da abdicação; escravo de tudo que poderia ter sido e não foi. Aprendi, em minha vida que é preciso abraçar as escolhas com a mesma paixão que a maioria "desescolhe". As pessoas andam abrindo mão de grandes coisas por coisas pequenas, estranhas e insatisfatórias. "Coração de outro é terra onde ninguém pisa...." Sabe lá o que se passa na vida de cada um. Quem sou eu para julgar? Posso começar comigo, e confesso que já comecei faz um tempo. Abracei com paixão shakespeareana tudo que escolhi como meu. Moldei as coisas, ainda que artificialmente, para adequar o que está em meu controle para máxima performance e deixei de me preocupar um pouco com o que já deixou de depender só de mim. Sangrei nesse processo. Dói mudar essa minha natureza de dúvidas e anseios estranhos. Vejo pessoas prostradas, pressionando e aguardando uma decisão alheia sem estarem dispostas a sacrificar sequer 5 minutos de sua vida para entenderem o outro. A famosa "felicidade venha a nós". Fiquei mais individualista, e apesar de todas as "desescolhas", meu saldo tem sido positivo. Estudar até as 0h por exemplo, levantar as 6 sem reclamar do frio, ou deixar de por às mãos de alguém os sucessos de meus projetos. São compensações que serão colhidas por mim mesmo, futuramente. Amores passageiros, empregos sem futuro, cervejas urinadas, pessoas que medem a importância de outras pelo contra-cheque, que gastam horas de exposição pública e falsos compensantes sociais em troca de um mero orgasmo que quase sempre nem ocorre... são tantos piegas que acabei abdicando um pouco das pessoas. Ando completamente sem vida social, sem vida familiar - que aliás, anda passando por momentos delicados... - sem entretenimento; uma vida chata afinal, que nem um quadro cubista moderno cheio de cores mas sem formas inspiradoras, sem moldura, colado numa parede branca. Mas o que é chato afinal? Chato é se poluir com a dependência de uma forma onde o outros deva se enquadrar como uma estátua em meu jardim ou cuidar, eu mesmo da terra em meu jardim e do grande e longo campo de colheita que se apresenta esperando apenas ser semeado, arado pelo esforço e regado pelo suor? Aí é com você.


Eu tive que tatuar, à ferro quente uma resposta em mim. Não foi fácil, e ainda não é. talvez seja isso envelhecer meio sem cor, quando se percebe que alguns sonhos ficaram para trás e viraram areia na maré das circunstâncias, em meio à uma costa oceânica repleta de argumentos. Mas você escolhe uma rocha e se finca nela, até sabendo que não é eterna e às vezes nem terna. Mas sinceramente? Isso tudo é só um pequeno grão de areia no turbilhão das conclusões desse mundo. De todo modo as palavras vieram em boa hora.

Se você realmente quer faça acontecer. Grandes sacrifícios, quase sempre, envolvem grandes compensações. A felicidade é meta, mas também labora na busca. Está em todos os lugares.

R.

Até breve.

11 de ago. de 2013

Texto notívago de domingo.

Fato que estou tendo que administrar, erros e acertos, um a um, lentamente, como se deve fazer com tantos problemas. E são dragões implacáveis de mim mesmo. Fato que às vezes não chego à conclusão nenhuma, sobre nada, minhas dúvidas, anseios, esperas, angústias, caem como água, escorrendo na impossibilidade de meu tempo e inundando o cômodo de minha presença. Incomoda. Dá uma umidade estranha, amarelada; coisas com as quais você não pode fazer nada a respeito, não imediatamente. E para alguém imediatista como eu, uma urgência é como uma sirene berrando colada na minha orelha esquerda, fazendo em pedaços todo o meu sossego. O sono some. As frases se montam como peças num quebra cabeças flutuando no teto... "...eles não me respeitam como líder!" "Há tanto conhecimento a se absorver em tão pouco tempo!" "Deus como pedi tempo livre, tempo hábil..." "Como fui imaturo e inconveniente comigo e com os outros! "Como perdi tempo confiando problemas e fraquezas a pessoas que praticaram tiro ao alvo em minha própria face!" "Essa maldita fatura de cartão de crédito" "Esse maldito aumento de salário..." "Essa maldita taxa de... ... ... ... ..." "Reunião do condomínio" "Celular sem área" "Chuveiro dando choque" "Esse dente ciso é a porta do inferno!"


Olha eu juro, eu tento ser leve. Tento ser leve, mas não dá. Tenho inveja de quem fecha os olhos e simplesmente dorme. Estar em paz, antes do sono, representa minha queda na turbina de todos os meus problemas. 

É duro se sentir impotente. Espero que, na minha vagabundagem antes de agora - tenho abraçado tantas responsabilidades com força ainda longe de exemplar! - tenha deixado um legado de amor e sentimentos, em algum lugar. De conversas sem rumo na beira do mar, problemas desabafados - uns em vão, outros não - e afinidades múltiplas; pois lidar com o ser humano é um terreno de fortes incertezas, e é preciso estar preparado. Para um besta inocente feito eu, de berço e crescimento, que entrou nos turbilhões das verdades, às vezes saindo quase morto de tanta injúria e injustiça, talvez os anos de ócio tenham sido um preparo para lidar com a natureza humana. Que de tão tempestuosa às vezes me deixa assim, pensando nisso numa meia-noite de domingo onde eu deveria estar mais tranquilo que nunca, preocupado só com o amanhã. Mas esse meu mal de sofrer por antecedência me eterniza estúpido. Essa dor no ciso, que não tirei por desleixo, anda aqui a me lembrar de tudo. E eu só queria dormir. Só isso.

R.