18 de ago. de 2013

Uma serenidade lapidada



"Reclamar da vida é o mesmo que chorar pra mamãe pedindo biscoito recheado no supermercado. Além disso, é um ato que evidencia nossos próprios defeitos, tornando nossa presença desagradável. Quando você abre a boca para reclamar de maneira improdutiva (sem a motivação de verdadeiramente mudar algo de maneira positiva), estampa em sua testa um certificado de menino mimado..."


Essas palavras soam como se - se fossem coletivas - instaurariam um silêncio sepulcral em toda humanidade. Ou mais ainda, em outro extremo, seriam um placebo já que o ser humano está sempre pronto a expor uma insatisfação por algo.


A infelicidade mora nas escolhas. Você abre mão de algo para abraçar outra coisa. Mas se for fraco a ponto de pensar no que deixou para trás, fica um eterno escravo da abdicação; escravo de tudo que poderia ter sido e não foi. Aprendi, em minha vida que é preciso abraçar as escolhas com a mesma paixão que a maioria "desescolhe". As pessoas andam abrindo mão de grandes coisas por coisas pequenas, estranhas e insatisfatórias. "Coração de outro é terra onde ninguém pisa...." Sabe lá o que se passa na vida de cada um. Quem sou eu para julgar? Posso começar comigo, e confesso que já comecei faz um tempo. Abracei com paixão shakespeareana tudo que escolhi como meu. Moldei as coisas, ainda que artificialmente, para adequar o que está em meu controle para máxima performance e deixei de me preocupar um pouco com o que já deixou de depender só de mim. Sangrei nesse processo. Dói mudar essa minha natureza de dúvidas e anseios estranhos. Vejo pessoas prostradas, pressionando e aguardando uma decisão alheia sem estarem dispostas a sacrificar sequer 5 minutos de sua vida para entenderem o outro. A famosa "felicidade venha a nós". Fiquei mais individualista, e apesar de todas as "desescolhas", meu saldo tem sido positivo. Estudar até as 0h por exemplo, levantar as 6 sem reclamar do frio, ou deixar de por às mãos de alguém os sucessos de meus projetos. São compensações que serão colhidas por mim mesmo, futuramente. Amores passageiros, empregos sem futuro, cervejas urinadas, pessoas que medem a importância de outras pelo contra-cheque, que gastam horas de exposição pública e falsos compensantes sociais em troca de um mero orgasmo que quase sempre nem ocorre... são tantos piegas que acabei abdicando um pouco das pessoas. Ando completamente sem vida social, sem vida familiar - que aliás, anda passando por momentos delicados... - sem entretenimento; uma vida chata afinal, que nem um quadro cubista moderno cheio de cores mas sem formas inspiradoras, sem moldura, colado numa parede branca. Mas o que é chato afinal? Chato é se poluir com a dependência de uma forma onde o outros deva se enquadrar como uma estátua em meu jardim ou cuidar, eu mesmo da terra em meu jardim e do grande e longo campo de colheita que se apresenta esperando apenas ser semeado, arado pelo esforço e regado pelo suor? Aí é com você.


Eu tive que tatuar, à ferro quente uma resposta em mim. Não foi fácil, e ainda não é. talvez seja isso envelhecer meio sem cor, quando se percebe que alguns sonhos ficaram para trás e viraram areia na maré das circunstâncias, em meio à uma costa oceânica repleta de argumentos. Mas você escolhe uma rocha e se finca nela, até sabendo que não é eterna e às vezes nem terna. Mas sinceramente? Isso tudo é só um pequeno grão de areia no turbilhão das conclusões desse mundo. De todo modo as palavras vieram em boa hora.

Se você realmente quer faça acontecer. Grandes sacrifícios, quase sempre, envolvem grandes compensações. A felicidade é meta, mas também labora na busca. Está em todos os lugares.

R.

Até breve.