29 de mar. de 2016

Torpor (ou a noite do infinito)

    
Quando o corpo descansa é que realmente começa  o tormento. Nesse momento de silêncio, onde os ponteiros martelam os segundos ensurdecedores no ar que respiro, com gritos abafados, gemidos oprimidos. Respiro, agora tão devagar, pra suavizar o efizema da pressa diária. Tão incessante. Tão inquieta. Caminhar sob esse turbilhão que não termina nunca. O peito, se enche agora do tormento vazio - estufa e escorre da mente, em gotas a saudade. É como uma ampulheta, pingando os grãos de sossego e preenchendo com sua ausência. O tempo não vai parar. Mas aqui, sozinho, percebo quanto de mim não coube em ninguém. Guardando para ti, como um centurião desorientado, um lugar nessa cama o de você nunca esteve. Deve ser triste ser isso na vida de alguém: um lugar vazio. Uma espera inútil. Uma indiferença. Um despercebido. Até a lua, só notada pelos apaixonados e astrônomos, sofre do mesmo mal. No entanto permanece lá pelo ecoar dos séculos. Devem ser assim os amores impossíveis: lindos, efêmeros e cheios de fases. Quantos Tristãos e quantos Romeus, quantos finais infelizes? Esse é só mais um, só minha cama. Só uma página de um esforço que será apenas um passatempo. 
Nem consegui chorar pra colocar, pelos olhos, a pressão dessa enxaqueca. Sou um poço de más notícias e reclamações. Quase barroco. Quase romântico, exceto pelo tempo, que tudo errou. Sou o guardião dessa tumba vazia, sem tesouros ou maldições, apenas a areia da razão, que em incontáveis grãos, descem lentamente no peito. Apenas isso. Apenas essa página. Nada mais. Só saudades e planos pra quando o Sol vier. E a lua voltar, de novo, a testemunhar meu caos descabido, mudando lentamente para outra fase que só os destinos guardarão - a próxima página.