"Vai! ...desce as escadas desse degrau degradê de emoções e sensações. A subida tinha a minha mão. A descida não tem corrimão. A cada degrau uma emoção que deixamos para trás, a cada janela uma memoria perdida."A fonte do esquecimento está a esquerda da porta do inferno"Ja anoitece. Pouca coisa mudou. Do dia nublado herdamos a escuridão profunda e crescente do tempo e seu beijo lento, forçado e erótico na madrugada. Não há lua nem romances, nem luzes nem nuances. Há aquele medo quase digestivo de quem sente muito e fala pouco.Avançam as horas. Os ponteiros já não podem mais sincronizar as batidas do coração, cansado e faminto. Melhor tirar a mesa, melhor lavar essa louça suja e deitar, pra sonhar que ainda estamos acima das nuvens.Acordo: pesadelos. Viver só seria mais justo se fossemos filmes, cada um de nós, películas giratórias de quadros infinitos e fatos congelados. Cada rua um roteiro, cada cena um cenário - sem diretor! Chega de gente dando ordem. Mas o Sol pomposo ilumina a ordem da realidade e cega os sonhos e pesadelos, afasta os demônos e queima os vampiros. Eu nem gosto de sol; nem de vampiros, nem de demônios. Por isso moro no crepúsculo, no lençol do sol. Ambígua é a vontade de quem deseja e não alcança, de quem corre e não descança, descalçado de esperança.Minha história, essa chata e enfadonha que faz você torcer o nariz, é contada nos vitrais e janelas desse templo, dessa escada, que continuamos descendo sem olhar um para o outro. Apenas esticando verdades em palavras. No final, lá embaixo está o barco. Num porto. E não há nada de seguro nesse porto. Nada."