19 de jul. de 2012

"Desesperancento" (Não fará bem.)


Estou morrendo. Sinto isso a cada dia mais. Não sinto como as outras pessoas, que morrem sem perceber. Sinto milimetricamente cada pedaço de mim esvair, egoísta, criando pernas para se perder dos meus olhos pra sempre. Como pequenas aranhas nas frestas despercebidas. Venenosas, sim, como qualquer coisa inanimada que ganha vida. Zumbis. E ironicamente também me torno um zumbi, vendo pedaços meus esfarelados, espalhados e - por constatação - mortos. A única coisa que sobra são essa fome e essa sede de amor, que nunca passa. Cada momento tendo seu lindo levemente descolorido, lenta e dolorosamente, cada pedaço do espectro. Uma sépia sem charme. Paulo dizia que a única coisa que restava mesmo era o amor. Paulo era apóstolo, sabe Deus com que matava sua sede. Eu só tenho a sede. 
Estou bêbado de vazio. Cansei de gritar, cansei de me debater. Estou naquele momento m que você se entrega aos fatos e lamenta. Uma vela acesa no canto, talvez um gemido pequeno, imperceptível Não quero acordar os vizinhos. Não quero escandalizar os homens com esse demônio com quem me compactuei. Não quero, não quero nada. Queria poder apenas dormir; já que mesmo as plantas sentem sede, em sua eterna expressão incoerente. Sou uma samambaia, crescendo pra baixo, com raízes peludas. Não, nem posso dizer que sou samambaia. Não sou coisa viva alguma. Estou nas últimas gotas... aquelas que escorrem do copo quebrado em seus últimos cacos, ou aquele resto de líquido que impregna o fundo da garrafa. Nada ressoará, exceto o eco, o som do vento. Os cacos talvez, caindo no chão. Nada mais. Depois, silêncio e corte. E sabe-se lá o que mais.
Meus caros: estou cansado, de verdade. E sem saída. Deus meio que se esqueceu de chover por aqui...