18 de out. de 2012

-... e faço minhas as palavras dele!


"Senhor, eis aqui minha biografia, meu livro de vida..
 É documentário, e confesso que é muito difícil escrever a vida como Vós quereis...
 É difícil, Senhor, escrevê-la quando não se é escritor, quando nunca se aprendeu tal ofício.
 Mas a vida não se aprende: toda vida é um romance novo, único no gênero, sempre obra de primeira mão.
 É difícil, Senhor, não poder copiá-lo, pois vós não aceitais plágios.
 É difícil, Senhor, não poder corrigi-la.
Dela não podemos arrancar páginas mal escritas, ou apagar alguma coisa.
 O que escrevi ficará sempre escrito.
 O que eu posso é manifestar meu arrependimento, escrevendo páginas melhores.
 É difícil, Senhor, seguir este ritmo da vida que me leva inexoravelmente adiante...
 Mas obrigado, Senhor, por retratar-me das páginas passadas em cada nova página que escrevo.
 É difícil, Senhor, ir virando as folhas, dia por dia, na angústia de não saber o dia da entrega do manuscrito...
 Mas não seria, Senhor, mais angustioso ainda saber o dia e a hora?
 É difícil, Senhor, não sabermos quantas folhas em branco nos restam para desenvolver satisfatoriamente o tema...
 Um dia qualquer vós me tomareis a caneta das mãos e escrevereis debaixo do meu último rabisco:
 Fim.

É difícil, Senhor, não poder reclamar, então:
"Ainda não terminei...",
porque há sinfonias inacabadas que são obras primas e há existências longevas que nunca acertaram o tema.

Tive pena do tempo perdido..."
--
Rabindranath Tagore