23 de jul. de 2016

Phoenix


Quando tomamos caminhos opostos, as folhas da amendoeiras estavam avermelhando. As amendoeiras são uma das poucas coisas genuinamente capazes de de nos fazer ver, em verdade, as fases e ciclos que a vida nos impõe. Era verão quando nos conhecemos. E o sentimento nos refrescou as idéias. O refrescar que se seguiu foi inevitavelmente abatendo a distância, nos aproximando, criando aquele calor pelo qual tanto me apaixonei. Uma tempestade, já anunciada, lavou toda pintura dessa tela. Não há visão mais patética que um amor que morre. É como deve ser a morte de um Deus. Uma fé que evanesce; um mundo inteiro tremendo sob um Olimpo de ruínas. A perdição em si. Depois do trovão, o silêncio. Hoje as amendoeiras possuem apenas galhos repletos de pequenos brotos, lembrando que tudo há de começar novamente. Lembrando que outros outonos virão. E os invernos serão sempre insuportáveis sem todas as peles que se perderam no tempo. A verdadeira graça do amor, cantado nas trovas dos milênios e eternizado em deuses superficiais, é a de não ser eterno. Mas estar sempre pronto para renovar-se. O triste, agora é ver em você apenas mais um exemplo de tudo que foi igual. Hoje vi um arco-íris. A chuva parou. Comecei outra pintura, a céu aberto, como reza a vontade em meu peito... Meu peito arde, como sempre. Sigo essa lenda em que acredito, ignorando previsões e profecias. Contra todos os contras. É simplesmente o que me mantém vivo. O amor mora em mim.