19 de mar. de 2010

Se fosse possível traduzir...



"Por não haver saudade e sentimento igual, voltei a escrever... e não há sílaba capaz de volver os fatos do coração, do espírito e da carne. São tantas as coisas que ficam na jornada dos fatos, são tantas as estrelas que mesmo distantes continuam seu brilho contínuo, não pelos anos, mas pela luz. Os corações nunca pulsam no mesmo rítimo... Mas o tempo tem sim seu mérito, mesmo que obtuso. Os ponteiros nunca apontam na mesma direção, e quando o fazem já se passou metade do dia, ou ele inteiro. E faceiros continuam sua viagem pelos incontáveis segundos, pelos incontroláveis olhos piscantes que em lágrimas ou em brilho, desconsideram totalmente a matemática de qualquer coisa. Nada se soma. Nada se divide, nada se conta: apenas fica. E fica em seu devido lugar; tem sua importância magna no universo. São elas as estrelas, são eles os astros, as pirâmides, as estátuas e as pessoas. E desde que comecei a andar, pude ver cada uma delas em seu lugar, maestrada pelo criador, com seus instrumentos de corte, de cura, de fúria ou de milagres. Sempre todas num trajeto constante, e quando mudo de caminho, forço meu destino a outras terras, posso ver o tilintar de cada uma dessas estrelas em sua importância. De tudo que deixei para trás, tudo que carrego comigo, posso deixar uma lição – eu que nunca gostei muito de lições : estar lado a lado é sempre uma opção. O mundo gira, as montanhas se movem, a neve derrete e tudo passa – assim como eu passarei; mas o tempo e o amor sempre ficam. São eles os grandes mestres de tudo, a mão esquerda e a mão direita de todos os mistérios. Os pais dos acontecimentos. Escrever isso me deixa apreensivo pois me sinto indigno de tentar traduzir algo tão grandioso em palavras. É imensurável o poder de uma vida! Ter a oportunidade de ser um instrumento de tudo que existe. Sentir Deus, sentir o bem e o mal, sentir a vida e a morte e todas as contradições de todas as jornadas. E ainda assim, em meio a todo esse caos, poder escolher.



Me senti grande quando percebi que carrego um pouco de cada um em mim. Da dor ao abraço, do pequeno ao nobre, do simples ao eterno – carrego cada parte de cada um dentro de mim. Sou cada um pelo que vi, senti e estive. Mesmo os que se foram, os que ficaram, os que não vejo, os que brincaram comigo quando crianças, os que aprenderam comigo a lei dos homens e da vida, os que foram rivais, companheiros, algozes, júris e juízes, e os que amei – todos, estão em mim agora. E nesse giro pulsante de uma vida inteira, é preciso ser forte para suportar tantas diferenças; dessa forma entendo o porquê de tantos terem medo, terem raiva, ou perderem tempo com coisas tão pequenas a ponto de cegar esta realidade. É o mesmo Sol que nasce todos os dias, ainda assim, todos tornam tão difícil esse entendimento...


Para sempre, “por todos os sempres” – e direi isso apenas uma vez: estou em cada um de vocês.


Somos todos um só. E eu estava certo: não há palavras que traduzam o universo inteiro."

Rodrigo S. - em definitivo.