17 de dez. de 2016

Ciranda do nunca mais (ou a evolução segundo Rodrigo S.)


Há alguma coisa se movendo em mim. E é estranho. A mesma estranheza de quem altera uma natureza. Talvez a estranheza do primeiro peixe que decidiu botar a cara para fora da água. Renascer de si, resolver coisas que serão irrevogáveis e sem retorno. Resoluções de uma vida. Será que o peixe que pôs primeiro a cara para fora d'agua pensou que poderia sufocar? Ou pensou que podia, um dia, ter pernas e pálpebras? Porra nenhuma: o peixe não tinha células suficientes para pensar. Eu tenho demais. Coração e cérebro empapados de células. Por isso esse furacão-abismo onde vou me jogar no escuro das incertezas. Algumas claras, outras matemáticas. Outras enevoadas. Mas vou. Organizar o raciocínio é meu ponto fraco. Meu cérebro pulsa, quase ao nível do coração cheio de sopros e taquicardias: são os neurônios distribuindo esse caos nesse furacão, que agora (certeza!) eu mesmo criei. Queria ser como é a maioria: viver de brisa. Correr passos certos. Não falar pelo nariz nem engolir o pensamento indigesto, que mando direto pro ventre que me prende essa merda toda. Queria ser camarão, como é a multidão. Digerir pedras no cérebro e expelir, sabe Deus (ou a biologia!) por onde, os incômodos de meus cômodos já cheios.  Estou transbordando, como sempre estive. Mas minha taça foi rachada. E rápido, bebo dessa água. Preciso. Afogo.
Pronto. Posso ir agora. O mundo gira sob meus pés e eu giro sobre ele. Acabou a brincadeira.

R.