16 de dez. de 2016

ENIGMA PARA INTRANQUILOS

ENIGMA PARA INTRANQUILOS - Neruda

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"Pelos dias do ano que virá, encontrarei uma hora diferente, uma hora de cabelos em catarata, uma hora nunca mais transcorrida, como se o tempo se rompesse ali e abrisse uma janela: um buraco por onde deslizar-nos até o fundo. Bom, aquele dia com aquela hora chegará e deixará tudo mudado:

não se saberá jamais se ontem foi-se ou o que volta é o que não se passou. Quando do relógio cair uma hora ao solo, sem que ninguém a recolha,

e ao fim tenhamos amarrado o tempo, ai! saberemos por fim onde começam ou onde terminam os destinos, porque no trecho morto ou apagado veremos a matéria das horas como se vê a pata de um inseto. E disporemos de um poder satânico: voltar atrás ou acelerar as horas, chegar ao nascimento ou à morte com um motor roubado ao infinito..."